O texto abaixo servirá para apoio na prova mensal.
PLATÃO
Seu professor, Sócrates, não escreveu seus
ensinamentos. Platão, como discípulo de Sócrates, escreveu muito dos
ensinamentos que lemos dele. Porém, nos diálogos, Platão faz do
personagem Sócrates porta-voz de seus próprios pensamentos, de modo que é
difícil estabelecer quais são os ideais de Platão e quais são os de Sócrates.
Em 399 a .C. Platão testemunhou o julgamento e a
condenação de Sócrates, tendo sido acusado de corromper a mente dos jovens e
não acreditar nos deuses. Após a execução de Sócrates, revoltado com a
democracia Ateniense e talvez preocupado com sua própria segurança, Platão
deixou Atenas e foi para a Sicília e para o Egito, onde passou aproximadamente
dez anos viajando.
Em 387, com seu regresso a Atenas, Platão fundou
uma Academia, uma instituição tida como a primeira universidade da
Europa. A Academia oferecia um currículo de matérias tais como
astronomia, biologia, ciências políticas e filosofia. Aristóteles foi o aluno
mais famoso da Academia. A Academia de Platão se manteve em funcionamento
por mais de novecentos anos.
Em 367 Platão retornou a Sicília tentando
influenciar a política local com seus ideais, mas logo voltou a Academia em
Atenas onde passou o resto de sua vida, com exceção de algumas viagens, onde
ensinava e escrevia. Platão faleceu em 347 a .C., com oitenta anos de idade.
SUAS OBRAS
Fases dos diálogos
Os ensinamentos de Platão foram escritos em forma
de diálogo, de uma conversa ou um debate entre várias pessoas.
Seus diálogos são divididos em três fases. A primeira
fase é representada com Platão tentando comunicar a filosofia de Sócrates.
Muitos dos diálogos têm a mesma forma. Sócrates encontra alguém que diz que
sabe muito. Sócrates se diz ignorante a procura de conhecimento e faz várias
perguntas, mostrando que aquele que se dizia mestre no assunto realmente não
sabe nada. Os diálogos terminam em aporia.
Os diálogos da segunda e terceira fase relatam as
próprias ideias de Platão, por mais que ele continue a utilizar Sócrates como
personagem em seus diálogos.
Teoria das Formas ou das Ideias
A parte central da filosofia de Platão é a teoria
das formas, ou o mundo das ideias.
Ideias ou formas são arquétipos imutáveis. De
acordo com Platão só essas ideias/formas são constantes e reais. Platão divide
o mundo em duas partes – o mundo das ideias, onde tudo é constante e real, e o
mundo físico em que vivemos, onde o fluxo é constante e a realidade é relativa.
As formas então mantêm a ordem e a estrutura das ideias do mundo.
Platão distinguiu dois níveis de saber: opinião e
conhecimento. Afirmações relacionadas com o mundo físico, são consideradas como
uma opinião, mesmo que estivessem baseadas na lógica ou na ciência. Segundo Platão, o conhecimento é derivado
da razão e não da experiência. Ele pregava que somente através da
razão atingimos o conhecimento das formas.
Platão diz que as formas têm uma realidade que vai além do mundo físico
por causa de sua perfeição e estabilidade. O mundo físico
se parece com as formas, mas devido a constantes mudanças nunca chega a sua
perfeição.
Um exemplo para entender a diferença entre o mundo
das formas e o mundo físico é dado por Platão em termos matemáticos. Devido ao
mundo das formas temos a concepção de um círculo perfeito – totalmente redondo
composto de uma série de pontos que apresentam exatamente a mesma distância do
ponto central. No mundo físico, porém, essa figura não é vista. Círculos nunca
são desenhados perfeitamente. A idéia do círculo existe e é imutável, porém ela
só pode ser conhecida pela razão e não pela experiência do círculo perfeito no
mundo físico.
Platão aplica sua teoria a conceitos como beleza,
justiça, bondade, entre outros. A pessoa é bela ou justa por que nela há algo
que se parece com a forma do belo ou do justo, presente no mundo das ideias. O
amor no mundo das ideias também é perfeito, daí vem a expressão amor
platônico, utilizada nos dias de hoje.
Teoria Política
A República é a maior e mais reconhecida obra
política de Platão. A obra se foca na questão de justiça: Como é um
Estado justo? Quem é um individuo justo?
Segundo Platão, a melhor forma de governo é a
aristocracia por mérito. Platão divide o estado ideal em três classes: a classe
dos comerciantes, a classe dos militares e a classe dos filósofos-reis. Os
filósofos-reis são encarregados de governar o país. As classes não são
hereditárias, elas são determinadas pelo tipo de educação obtida pela
pessoa. Com maior nível de educação a pessoa se pertence à classe dos
filósofos-reis.
A República aborda diversos temas sobre justiça,
governo e apresenta um governo utópico. Essa obra vem sendo amplamente lida
através dos séculos, por mais que suas propostas nunca foram adotas como uma
forma de governo concreta.
Alegoria da Caverna
Todos nossos sentidos, diz Sócrates, mantêm uma
relação direta com o que sentem. Não é esse, porém, o caso da visão. Para que a
visão se realize, não bastam os olhos (ou a faculdade da visão) e as coisas
coloridas (pois vemos cores e são elas que desenham a figura, o volume e as
demais qualidades da coisa visível), mas é preciso um terceiro elemento que
permita aos olhos verem e às coisas serem vistas: para que haja um visível
visto é preciso a luz. A luz não é o olho nem a cor, mas o que faz com que o
olho veja a cor e que a cor seja vista pelo olho. É graças ao Sol que há um
mundo visível. Por que as coisas podem ser vistas? Porque a cor é filha da luz.
Por que os olhos são capazes de ver? Porque são filhos do Sol: são faróis ou
luzes que iluminam as coisas para que se tornem visíveis. A visão é, assim, uma
atividade e uma passividade dos olhos. Atividade, porque é a luz do olhar que
torna as coisas visíveis. Passividade, porque os olhos recebem sua luz do Sol.
Conhecer a verdade é ver com os olhos da alma ou com os olhos da
inteligência. Assim como o Sol dá sua luz aos olhos
e às coisas para que haja mundo visível, assim também a idéia suprema, a idéia
de todas as ideias, o Bem (isto é, a perfeição em si mesma) dá à alma e às ideias
sua bondade (sua perfeição) para que haja mundo inteligível. Assim como os
olhos e as coisas participam da luz, assim também a alma e as ideias participam
da bondade (ou perfeição) e é por isso que a alma pode conhecer as ideias. E
assim como a visão é passividade e atividade do olho, assim também o
conhecimento é passividade e atividade da alma: passividade, porque a alma
precisa receber a ação das ideias para poder contemplá-las; atividade, porque
essa recepção e contemplação constituem a própria natureza da alma.
Assim como na treva não há visibilidade, assim também na ignorância não
há verdade.
Sob a analogia da luz, a diferença entre o sensível
e o inteligível se apresenta assim:
MUNDO SENSÍVEL
|
MUNDO INTELIGÍVEL
|
Sol
Luz Cores Olhos Visão Treva, cegueira Privação de luz |
Bem
Verdade Ideias Alma racional ou inteligência Intuição Ignorância, opinião Privação de verdade |
Essa analogia é o tema do Mito da Caverna, narrado por Sócrates a Glauco para fazê-lo compreender o sentido da paidéia
filosófica, isto é, da dialética e do conhecimento verdadeiro.
Imaginemos, diz Sócrates, uma caverna subterrânea
separada do mundo externo por um alto muro. Entre este e o chão da caverna há
uma fresta por onde passa alguma luz exterior, deixando a caverna na
obscuridade quase completa.
Desde seu nascimento, geração após geração, seres
humanos ali estão acorrentados, sem poder mover a cabeça na direção da entrada,
nem se locomover, forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo sem nunca
ter visto o mundo exterior nem a luz do Sol, sem jamais ter efetivamente visto
uns aos outros, pois não podem mover a cabeça nem o corpo, e sem se ver a si
mesmos porque estão no escuro e imobilizados. Abaixo do muro, do lado de dentro
da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que
as coisas que se passam do lado de fora sejam projetadas como sombras nas
paredes do fundo da caverna.
Do lado de fora, pessoas passam conversando e
carregando nos ombros figuras ou imagens de homens, mulheres, animais cujas
sombras também são projetadas na parede da caverna, como num teatro de
fantoches. Os prisioneiros julgam que as sombras de coisas e pessoas, os sons
de suas falas e as imagens que transportam nos ombros são as próprias coisas
externas, e que os artefatos projetados são seres vivos que se movem e falam.
Nesse ponto, Glauco diz a Sócrates que o quadro
descrito por ele lhe parece algo estranho, incomum e inusitado. Sócrates,
porém, diz-lhe que os prisioneiros “são semelhantes a nós”. E prossegue. Os
prisioneiros se comunicam, dando nomes às coisas que julgam ver (sem vê-las
realmente, pois estão na obscuridade) e imaginam que o que escutam, e que não
sabem que são sons vindos de fora, são as vozes das próprias sombras e não
vozes dos seres reais. Qual é, pois, a situação dessas pessoas aprisionadas?
Tomam sombras por realidade, tanto as sombras das
coisas e dos homens exteriores como as sombras dos artefatos fabricados por
eles. Essa confusão, porém, não tem como causa a natureza dos prisioneiros e
sim as condições adversas em que se encontram. Por isso Sócrates indaga: que aconteceria se fossem libertados dessa
condição de miséria e, “retornando à sua natureza, pudessem ver as coisas e ser
curados de sua ignorância?”.
Essa pergunta é um tanto grave. De fato, para os
prisioneiros, o único mundo real é a caverna, portanto, a obscuridade na
qual não podem se ver nem ver os outros não é percebida como tal e sim
experimentada como realidade verdadeira. E a caverna é para eles todo o
mundo real, pois não sabem que o que vêem na parede do fundo são sombras de um
outro mundo, exterior à caverna, uma vez que não podem virar a cabeça para ver
que há algo lá fora e que é de lá de fora que outros homens lhes enviam imagens
e sons.
Ora, se para os prisioneiros o mundo real é a
caverna, como poderiam sair da ilusão se não sabem que vivem nela?
Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em
que se encontra, decide abandoná-la. Fabrica um instrumento com o qual quebra
os grilhões. De início, move a cabeça, depois o corpo todo; a seguir, avança na
direção do muro e o escala. Enfrentando as durezas de um caminho íngreme e
difícil, sai da caverna. No primeiro instante, fica totalmente cego pela
luminosidade do Sol, com a qual seus olhos não estão acostumados. Enche-se de
dor por causa dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo
ofuscamento de seus olhos sob a ação da luz externa, muito mais forte do que o
fraco brilho do fogo que havia no interior da caverna. Sente-se dividido entre
a incredulidade e o deslumbramento. Incredulidade porque está obrigado a
decidir onde se encontra a realidade: no que vê agora ou nas sombras em que
sempre viveu. Deslumbramento (literalmente: ferido pela luz) porque seus olhos
não conseguem ver com nitidez as coisas iluminadas. Seu primeiro impulso é
retornar à caverna para livrar-se da dor e do espanto. Embora esteja
reconquistando sua verdadeira natureza, o sofrimento que essa reconquista lhe
traz é tão grande que se sente atraído pela escuridão, que lhe parece mais
acolhedora. Além disso, precisa aprender a ver e esse aprendizado é doloroso,
fazendo-o desejar a caverna, onde tudo lhe é familiar e conhecido.
A descrição platônica é dramática: o caminho em
direção ao mundo exterior é íngreme e rude; o prisioneiro libertado sofre e se
lamenta de dores no corpo; a luz do Sol o cega; ele se sente arrancado, puxado para
fora por uma força incompreensível. Platão narra um parto: o parto da alma que
nasce para a verdade e é dada à luz.
Sentindo-se sem disposição para regressar à caverna
por causa da rudeza do caminho, o prisioneiro permanece no exterior. Aos
poucos, habitua-se à luz e começa a ver o mundo. Encanta-se, tem a felicidade
de finalmente ver as próprias coisas, descobrindo que estivera prisioneiro a
vida toda e que em sua prisão vira apenas sombras. Doravante, desejará ficar
longe da caverna para sempre e lutará com todas as suas forças para jamais
regressar a ela. No entanto, não pode evitar lastimar a sorte dos outros
prisioneiros e, por fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo
sombrio para contar aos demais o que viu e convencê-los a se libertarem também.
Assim como a subida foi penosa, porque o caminho
era ingrato e a luz, ofuscante, também o retorno será penoso, pois será preciso
habituar-se novamente às trevas, o que é muito mais difícil do que se habituar
à luz. De volta à caverna, o prisioneiro fica cego novamente, mas, agora, por
ausência de luz. Ali dentro, é desajeitado, inábil, não sabe mover-se entre as
sombras nem falar de modo compreensível para os outros, não sendo acreditado
por eles. Torna-se objeto de zombaria e riso, e correrá o risco de ser morto
pelos que jamais se disporão a abandonar a caverna. Impossível aqui não
identificar a figura de Sócrates na do prisioneiro que se liberta, retorna e é
morto pelos homens das sombras.
A caverna, explica Sócrates a Glauco, é o mundo sensível
onde vivemos. O fogo que projeta as sombras na parede é um reflexo da luz
verdadeira (do Bem e das ideias) sobre o mundo sensível. Somos os prisioneiros.
As sombras são as coisas sensíveis, que tomamos pelas verdadeiras, e as imagens
ou sombras dessas sombras, criadas por artefatos fabricados de ilusões. Os
grilhões são nossos preconceitos, nossa confiança em nossos sentidos, nossas
paixões e opiniões. O instrumento que quebra os grilhões e permite a escalada
do muro é a dialética. O prisioneiro curioso que escapa é o filósofo. A luz que
ele vê é a luz plena do ser, isto é, o Bem, que ilumina o mundo inteligível
como o Sol ilumina o mundo sensível. O retorno à caverna para convidar os
outros a sair dela é o diálogo filosófico, e as maneiras desajeitadas e
insólitas do filósofo são compreensíveis, pois quem contemplou a unidade da
verdade já não sabe lidar habilmente com a multiplicidade das opiniões nem se
mover com engenho no interior das aparências e ilusões.
Os anos despendidos na criação do instrumento para
sair da caverna são o esforço da alma para libertar-se. Conhecer é, pois, um
ato de libertação e de iluminação. A paidéia
filosófica é uma conversão da alma voltando-se do sensível para o
inteligível. Essa educação não ensina coisas nem nos dá a visão, mas ensina a
ver, orienta o olhar, pois a alma, por sua natureza, possui em si mesma a
capacidade para ver.
O Mito da Caverna apresenta a dialética como
movimento ascendente de libertação do olhar intelectual que nos livra da
cegueira para vermos a luz das ideias. Mas descreve também o retorno do
prisioneiro para convidar os que permaneceram na caverna a sair dela,
ensinando-lhes como quebrar os grilhões e subir o caminho. Há, assim, dois movimentos: o de ascensão (a dialética ascendente), que
vai da imagem à crença ou opinião, desta para as matemáticas e destas para a
intuição intelectual e a ciência; e o do descenso (a dialética descendente),
que consiste em praticar com outros o trabalho para subir até às ideias.
Os olhos foram, portanto, feitos para ver, a alma
foi feita para conhecer. Os primeiros estão destinados à luz solar, a segunda,
à fulguração/revelação da idéia. A dialética é a técnica que liberta os “olhos
do espírito”.
O relato da subida e da descida expõe a Paidéia
como dupla violência necessária para a liberdade e para a realização da
natureza verdadeira da alma: a ascensão é difícil, dolorosa, quase
insuportável; o retorno à caverna, uma imposição terrível à alma libertada,
agora forçada a abandonar a luz e a felicidade. A dialética, como toda técnica,
é uma atividade exercida contra uma passividade, é um esforço para obrigar uma
dÚnamij a se atualizar, um trabalho para
concretizar um fim, forçando um ser a realizar sua própria natureza. No Mito da
Caverna, a dialética leva a alma a ver sua própria essência ou forma , isto é, conhecer, vendo as
essências ou formas, para descobrir seu parentesco com elas, pois a alma é
parente da idéia como os olhos são parentes da luz.
Bibliografia
PRÉ-SOCRÁTICOS, Col. “Os Pensadores”, vol. 1,
seleção de textos e supervisão do prof. Dr. José Cavalcante de Souza, São
Paulo,Abril Cultural, 1978.
Bibliografia Complementar
CHAUI, M. Filosofia, Série Novo Ensino Médio,
Volume Único, São Paulo, Editora Ática, 2004.
CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia – dos
pré-socráticos a Aristóteles, Volume 1, São Paulo, Cia. das Letras, 2002.
COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia: História e
Grandes Temas, São Paulo, Ed. Saraiva, 7a tiragem, 2005.
KIRK, G.S., RAVEN, J. E. & SCHOFIELD, M. Os
filósofos pré-socráticos, Lisboa, Fund. Calouste Gulbenkian, 1994.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Solicitamos que:
não usem palavras de baixo calão;
não expressem opiniões preconceituosas.